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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Futebol: bom ou ruim para os ossos?


Com os jogos da Copa acontecendo aqui no Brasil, algumas dúvidas surgem com relação aos benefícios e malefícios do futebol como esporte, principalmente em relação aos ossos.
O acontece com os ossos de quem pratica um esporte de impacto como futebol? O início precoce é benéfico para o organismo, mas é preciso atenção já que é um esporte de grande contato físico.

Veja as explicações sobre o tema em mais um bate bola da Comissão Temporária para o Estudo da Endocrinologia, Exercício e Esporte (CTEEE) da SBEM, da série SBEM na Copa. Quem aborda o assunto é a Dra. Victoria Borba, membro da Comissão e também da diretoria da SBEM Nacional.
Benefícios:
Os benefícios da prática regular de atividade física são inúmeros e dentre eles, podemos afirmar que os efeitos no metabolismo ósseo são consideráveis. O exercício físico altera a massa óssea com a idade e o desenvolvimento. A atividade física intensa, principalmente quando envolve impacto, obtido com a prática de esportes coletivos ou individuais, favorece o aumento da massa óssea na infância e adolescência, manutenção na quantidade e qualidade óssea em adultos e ainda redução na perda óssea nos idosos.

Jogadores de futebol profissionais geralmente iniciam a prática do esporte na infância ou adolescência, alguns profissionais já se tornam atletas de grandes clubes, jogando em competições reconhecidas internacionalmente desde a adolescência, na fase em que o pico de massa óssea ainda está sendo formado. O início precoce da atividade física apresenta inúmeros benefícios do ponto de vista ósteo-metabólico. Um estudo com 530 crianças e adolescentes concluiu que quanto maior o acúmulo de atividade física moderada e vigorosa, dos 5 aos 17 anos, mais elevada a massa óssea em colo de fêmur, e melhor geometria, vista por tomografia computadorizada quantitativa da tíbia1. Outro estudo realizado em Pelotas com 3811 adolescentes, publicado esse ano na Osteoporosis International, evidenciou que a prática de qualquer tipo de atividade física durante a adolescência foi associada positivamente com uma maior densidade mineral óssea (DMO) em coluna lombar e colo do fêmur na fase adulta.2
Nos adultos, a atividade física de alto desempenho também é benéfica. Estudo publicado esse ano por Whitfield e cols 3, com dados do NHANES (National Health and Nutrition Examination Survey), demonstrou que quanto maior a quantidade de atividade física praticada por adultos, maior a DMO em fêmur total para as mulheres e em coluna lombar e fêmur total para os homens. Trabalho interessante feito com mulheres jogadoras de futebol, de 18 a 30 anos, mostrou que comparadas com um grupo controle, estas atletas apresentaram uma maior DMO em coluna lombar, colo do fêmur e fêmur total.

Malefícios:
Pelo fato do futebol ser um esporte que apresenta contato físico intenso, não são raras as fraturas por traumas. De todas as injúrias do tecido músculo-esquelético, as fraturas correspondem a 2 a 20% destas, sendo 1/3 de membros inferiores. Em um trabalho com jogadores da Bélgica, as fraturas de tornozelo foram as mais comuns (37%), seguida por fratura em pé (33%) e tíbia (9%).5 Os praticantes de futebol amador e adultos de meia idade apresentam maiores índices de fratura por trauma do que jogadores profissionais e mais jovens. A prevenção dessas fraturas é de extrema importância para o atleta: um estudo de coorte identificou que 14% dos jogadores que sofreram algum tipo de fratura não conseguiram voltar ao esporte. Além de 1/3 persistir com algum tipo de sintoma por mais de dois anos relacionado à fratura.6
Outro malefício que pode ocorrer são as fraturas de stress. Estas são definidas como: fratura parcial ou completa do osso, resultante de cargas repetidas de menor intensidade, do que uma carga mais elevada suficiente para fraturar o osso em um único momento. A tíbia é o local mais comum, seguida pelo metatarso e tarso. O esporte mais associado a esse tipo de fratura é a corrida. Alguns fatores de risco são conhecidos: polimorfismos no gene do receptor da vitamina D, níveis elevados de PTH, uma baixa DMO de quadril, alta estatura, baixo peso, deficiência de ferro, sexo feminino, tabagismo e um baixo turnover ósseo. Na prática do futebol os locais mais acometidos pela fratura de stress são a tíbia e os ossos do púbis. Trabalho com jogadoras da UEFA Champions League identificou 51 fraturas de stress em 1.180 horas de jogo, uma incidência de 0,04/1000 horas. Assim, um time de 25 jogadores, supostamente, pode esperar uma fratura desse tipo a cada 3 temporadas. Todas as fraturas foram em membros inferiores, sendo 78% no quinto metatarso. O tempo médio de afastamento foi de 3 a 5 meses e os fatores de risco associados foram: jogadores mais jovens e um treinamento intensivo na pré-temporada.7
As mulheres que praticam atividade física de alto desempenho podem apresentar a “tríade da mulher atleta”, em que a quantidade de energia gasta ultrapassa a consumida. O metabolismo ósseo nesta tríade é extremamente afetado. Ocorre uma supressão na formação óssea, um aumento na reabsorção (relacionado com a deficiência estrogênica) e uma alteração na microarquitetura do osso. Essas alterações podem levar a osteoporose e um aumento na incidência de fraturas.8
Apesar de existirem alguns malefícios na prática de atividade física, do ponto de vista ósteo-metabólico, os benefícios, sem dúvida, superam em muito os riscos. Dessa maneira, sempre devemos incentivar a prática regular de atividade física em todas as idades, e no Brasil e em época de copa do mundo, nada mais justo que saudarmos a todos os atletas do futebol profissional e principalmente aos milhares de atletas potenciais  que sonham ou já sonharam em serem jogadores de futebol.
Fonte: SBEM

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